Personalidades

Major Joaquim Bernardes da Costa Junqueira

Nasceu em 6 de março de 1792, na Faz. do Campo Alegre, em Baependy-MG, quando os Patriarcas da Família ainda eram vivos. Foi um homem de personalidade fechada, pouco acessível, falava pouco e geralmente respondia através de monossílabos. Casou-se 3 vezes.

Seu pai dirigiu-se a Poços das Caldas, entre 1812 e 1815, para “fazer uso das águas” da região. Seduzido pelas pastagens naturais que lá encontrou, persuadiu seus filhos, o Major Joaquim Bernardes Junqueira e José Bernardes da Costa, a requererem sesmarias na “Paragem do Ribeirão Pinhal”, da “Freguesia de Nosso Senhor do Patrocínio do Rio Verde das Caldas”, termo da “nobre e leal” Vila da Campanha da Princesa, comarca do Rio das Mortes. Foram concedidas ao Major Joaquim Bernardes “terras devolutas no Ribeirão da Curitiba, que deságua no Rio Pardo”, e ele, “comprando as sesmarias de seus irmãos, fundou a Faz. do Barreiro”.

Em 14 de outubro de 1872, Joaquim Bernardes, ao lado de seus herdeiros e descendentes, efetuou a doação de 96 hectares e 8 décimos de terras “para a fundação de uma grande cidade com logradouros públicos”. Trata-se, nada mais nada menos, da doação de terrenos para formação da cidade de Poços de Caldas; tornando-se o seu fundador.

Em 1874, Joaquim Bernardes era um dos mais importantes fazendeiros da região. Foi proprietário da sesmaria do Barreiro e também do local onde se encontram as águas termais de Poços de Caldas. Faleceu em 7 de maio de 1876.

Major Gabriel José Junqueira

Foi filho de José Francisco Junqueira, 4o filho do Patriarca da Família Junqueira, João Francisco Junqueira. José Francisco, e parte de sua família, foram assassinados pelos escravos amotinados no episódio conhecido como o “Levante da Bella Cruz” – essa foi a maior e mais importante rebelião de escravos acontecida no sul do país, durante o Governo Imperial. Gabriel foi batizado em 1798, e faleceu em 1833. Em 1828 casou-se Cândida Bernardina de Andrade. O casal foi proprietário e residiu na Fazenda Atalho, em Três Corações-MG. Foram donos também da Fazenda Campo Belo.

A Fazenda Campo Belo tornou-se muitíssima importante na história do Cavalo Mangalarga, pois foi ela a escolhida, pelo Governo da Província de Minas em 1862, entre dezenas de outras, para hospedar o garanhão “Mortimer” – tão fundamental no caldeamento de raças que resultou na Raça Mangalarga. O padreador Mortimer destinava-se a cobrir éguas selecionadas do famoso e importante plantel do Major Gabriel José Junqueira. Com isso, eram dados os passos iniciais para satisfazer a necessidade de melhoria dos eqüinos da Província.

O Major Gabriel José Junqueira era sobrinho do Barão de Alfenas – quem primeiro selecionou, em sua Fazenda Campo Alegre, os exemplares que resultariam na Raça Mangalarga. Assim, seguindo os passos de seu tio e primos, Gabriel José está entre os primeiros criadores a desenvolver o Mangalarga. A Fazenda Campo Belo foi importante também no “Levante da Bella Cruz”, pois ela estava entre outras tantas, cujos proprietários os escravos amotinados pretendiam assassinar.

O casal teve 13 filhos. Os descendentes desse casal, em sua maioria, foram, entre outros, os primeiros povoadores da região de Caldas e posteriormente Poços de Caldas.

Joaquim José de Oliveira Filho

Nasceu na Faz. Moinho e foi batizado em 11 de janeiro de 1830, na Matriz de Caldas-MG. Casou-se duas vezes.

Em 1870, Joaquim José comprou a Faz. Cachoeira e transferiu-se com a família para São João da Boa Vista. Lá, filiou-se ao Partido Liberal e foi um dos mais diligentes fundadores do Partido Republicano em São João da Boa Vista. Dedicou-se de corpo e alma ao desenvolvimento da vila e, em pouco tempo, tornou-se o fazendeiro de maior prestígio e popularidade na região. Entre os anos de 1877 e 1887 foi vereador e presidente da Câmara Municipal de São João, e em 1887 foi eleito juiz de paz, cargo que exerceu até o fim de seus dias. Seus conselhos políticos eram sempre procurados por grandes nomes da república, como seus grandes amigos Campos Salles e Francisco Glycério. Um dia após seu falecimento, uma comissão iniciou uma subscrição popular para erigir um monumento a sua memória, numa nova praça central da cidade (hoje Praça Joaquim José). A estátua, em bronze, de autoria de P. de Chirico (São Paulo), foi inaugurada com grandes festas, em 28 de agosto de 1904. Joaquim José recebeu o título de “O Patriarca de São João”.

Ten. Francisco Antônio Junqueira

Foi batizado pelo seu tio, o Pe. Francisco Antônio Junqueira, em 12 de julho de 1792, na Capela de São José do Favacho. Francisco Antônio casou-se com sua prima Genoveva Clara Diniz Junqueira, filha de Maria Francisca da Encarnação, primogênita do Patriarca.

Acompanhado de seu cunhado, o alferes João José de Carvalho, e de seu irmão mais velho, o cap. João Francisco Junqueira, Francisco Antônio imigrou para a região oeste de São Paulo em 1812, onde chegaram em 8 de setembro. Francisco Antônio e João José, apossaram-se de imensa área tanto à direita – atuais municípios de Orlândia, Morro Agudo, São Joaquim da Barra, Ipuã, Guaíra, Miguelópolis, e a Faz. Melancias (esta já na Província de Minas Gerais); quanto à margem esquerda do Rio Pardo, em que hoje se localizam os municípios de Barretos, Viradouro, Colina, Terra Roxa, Jaborandi, Monte Azul, etc. Foi um dos maiores criadores de gado da região de Batatais. Francisco Antônio acumulou rapidamente riquezas. Após esse período de crescimento econômico, em 1830, começou a expandir seus domínios em direção a Uberaba-MG, onde adquiriu terras que viriam a se constituir, na Faz. das Melancias. Francisco Antônio e sua esposa Genoveva Clara moravam intermitentemente na Fazenda das Melancias e Fazenda Invernada.

De acordo com a tradição familiar, Francisco Antônio freqüentou a corte durante sua juventude e foi amigo íntimo de D. Pedro I e da Imperatriz Dona Leopoldina, com quem participava de caçadas. Certa vez, a Imperatriz Leopoldina mandou de presente a Francisco Antônio um par de cães de caça numa trela de prata com as armas da Coroa.

Francisco Antônio faleceu em 30 de abril de 1848, em Batatais-SP. O casal teve 21 filhos, dos quais 6 chegaram à maioridade.

João Pedro Diniz Junqueira

Nasceu em 29 de junho de 1782, na Faz. Santo Inácio, no município de Lavras do Funil, e batizado em 9 de julho do mesmo ano, pelo seu tio, o Pe. Francisco Antônio Junqueira, que foi seu padrinho juntamente com a sua tia, Anna Francisca do Valle. O batismo ocorreu na capela de São José do Favacho.

O cel. João Pedro Diniz Junqueira foi o primogênito dos dez filhos de Maria Francisca da Encarnação e de Gabriel de Souza Diniz. Casou-se em 1810 com sua prima Helena Constança. João Pedro terminou a construção da sede da Faz. Traituba, por volta de 1830, para receber a visita de D. Pedro I, com quem mantinha relações de amizade e era companheiro de caçadas. Do Imperador, recebeu vários presentes (entre os quais um casal de vitelos alentejanos, que se tornou o tronco da raça vacum denominada Junqueira). Como o propósito da Casa Grande era receber a visita do Imperador do Brasil, não foram poupados gastos em sua construção. Nos seus dois pavimentos, ela contava 25 quartos e 7 salas, além de outras dependências. No entanto, a visita de D. Pedro I nunca aconteceu, possivelmente por sua abdicação em 1831.

O cel. João Pedro Diniz Junqueira foi um dos mais ricos e importantes fazendeiros daquela região. O crescimento de sua fortuna chama a atenção pela rápida acumulação de capital que representavam os escravos naquela época e pelos bens deixados em seu testamento. Em 1831, João Pedro possuía 80 escravos, já em 1839 este número crescia para 163.

João Pedro faleceu “hidrópico” em 30 junho de 1853, aos 71 anos de idade, na Faz. Traituba. Foi sepultado na Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Carrancas, “do arco do cruzeiro para cima”.

Gabriel Francisco Junqueira, Barão de Alfenas

Nasceu em 1782, na Faz. Campo Alegre. Deve ter tido as primeiras letras ali mesmo, na Campo Alegre, pelo professor Luiz Gomes.

Gabriel Francisco Junqueira casou-se em 11 de junho de 1808, com Ignácia Constança de Andrade. Após a morte de sua esposa, em 27 de junho de 1858, foi seu inventariante. No inventário, constam várias fazendas dedicadas à agricultura e pecuária, além de grande quantidade de cavalos, gado e porcos – Gabriel Francisco foi quem começou a criação, seleção e desenvolvimento da raça Mangalarga. Mas o que impressiona é o expressivo número de escravos: 111 e o monte-mor (soma dos bens legados) de 327:219$100 (trezentos e vinte sete contos, duzentos e dezenove mil réis e cem vinténs). Muito acima dos abastados fazendeiros da época. Esse inventário é muito interessante pois nos dá uma idéia dos usos e costumes do século XVIII.

Em 1831, na eleição para deputado na Assembléia Constituinte, encarnando as idéias liberais, Gabriel Francisco foi o escolhido para concorrer com o candidato do Imperador D. Pedro I, o ministro José Antônio da Silva Maia, representante do conservadorismo Imperial. Derrotou-o fragorosamente por uma diferença de mais de 95% do votos!!! Com a derrota estrondosa de seu candidato, o Imperador entrou em depressão e essa derrota e mais o assassinato do jornalista Líbero de Badaró, na Província de São Paulo, foram fatores fundamentais para que abdicasse, em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho. Desta forma, a eleição de Gabriel Francisco Junqueira foi um marco importante na história de nosso país pois consolidou os ideais liberais que iriam daí por diante dominar o Parlamento Imperial.

Em 1842, Gabriel Francisco Junqueira comandou, na região de Baependy, um movimento de repercussão nacional: a Revolução Liberal de 1842. A Revolução Liberal encarnava os ideais de uma sociedade mais liberal, em oposição à política conservadora do Império.
A Família Junqueira se destacava não só pelos recursos econômicos de que dispunham seus membros, como também, em conseqüência destes, pelo poder e prestígio político propiciado, entre outros, pela eleição de Gabriel Francisco Junqueira – o Barão de Alfenas foi deputado federal do Parlamento Imperial em três legislaturas seguidas (1834-1837).

Pelo Decreto de 11 de outubro de 1848, o Imperador D. Pedro II, reconhecendo seus méritos pelos inúmeros serviços prestados à Nação, outorgou a Gabriel Francisco Junqueira, o título de Barão de Alfenas.

O Barão de Alfenas faleceu em 18 de janeiro de 1868, aos 87 anos de idade. Foi enterrado na Igreja de São Tomé das Letras, que acabara de construir. Quando morreu, tinha o amor e o respeito de toda a família, o qual nos foi passado por tradição através de gerações, e um enorme prestígio político por sua liderança liberal e pelos inúmeros serviços prestados a Minas e à Nação.

O casal teve 11 filhos, dos quais 9 deixaram grande descendência, hoje espalhada por quase todo o território nacional.

Cap. João Francisco Junqueira

O capitão João Francisco Junqueira, segundo filho do Patriarca, deve ter nascido provavelmente em 1759. Faleceu possivelmente em 1812. Casou-se com Maria Ignácia do Espírito Santo, de cujo matrimônio nasceram 9 filhos.

João Francisco sempre morou no Favacho. Pelo Auto de Prestação de Contas – pelo qual sua viúva, Maria Ignácia do Espírito Santo, em 14 de julho de 1818, presta contas ao Juiz de Órfãos da Vila de Baependy, então Comarca de Carrancas, de como ela vinha administrando, até aquela data, os bens de seus filhos órfãos – temos uma idéia não só dos bens deixados pelo cap. João Francisco Junqueira, mas principalmente, podemos inferir que ele era um capitalista, com recursos investidos em uma extensa região que se estendia para além do sul de Minas e atingindo o Vale do Paraíba. A isso somam as atividades a que se dedicava como agricultor, pecuarista, fornecedor de carne, toucinho e queijos para a Corte Imperial no Rio de Janeiro. Mas, o que era ser capitalista naquela época e naquela região? Era alguém que se ocupava com atividades comerciais e emprestava dinheiro a juros, inclusive para a comercialização, compra e venda de escravos – atividade, de longe, a mais rentável na época!

Outro exemplo: no inventário, iniciado em 21 de julho de 1873, do alferes Francisco de Andrade Junqueira, “Chiquinho do Cafundó”, filho do Barão de Alfenas, legou fazendas que perfaziam um total de 50:000$000, 116 escravos no valor de 92:690$000, e a extraordinária quantia em dinheiro de 180:296$290, em diversas mãos! O que significaria esse “diversas mãos”? Foram créditos a cobrar e tais créditos eram comuns na época, pela venda de escravos.

Isso que nos parece tão repugnante hoje, que agride nossa sensibilidade, o nosso senso estético e nosso juízo de valores, era uma prática extremamente comum, e importante para a época! Assim, foi desta forma que Vassouras, entre outros municípios do Vale do Paraíba, teve o seu progresso inicial deflagrado pelo plantio de café, financiado pelos capitalistas. Esses emprestavam o capital, isto é, vendiam os escravos com um prazo de 5 ou mais anos para serem reembolsados, com o lucro da produção cafeeira, acrescidos dos juros da época – não existia inflação naqueles primevos tempos. Assim atesta o historiador Stanley J. Stein. Em “Grandeza e Decadência do Café no Vale do Paraíba”, página 88 ou, em outra edição, página 104, escreve: “Entre os primeiros colonizadores de Vassouras haviam mineiros de São João del-Rei e Barbacena, que vieram para as “matas do Rio” com o capital necessário para fornecer crédito aos primeiros fazendeiros, para a aquisição de escravos. O desenvolvimento da economia agrícola de Vassouras foi em parte atribuído à chegada dos traficantes que traziam escravos, e vendiam-nos aos fazendeiros mediante pagamento em cinco parcelas anuais sem outra garantia que a dos cafezais já formados. Conheci um mineiro, meu íntimo amigo, João Francisco Junqueira, que por sua conta vendeu mais de 2.000 escravos naquelas freguesias quando o café ali fora introduzido” (sublinhado do autor).

Os fatos que se depreendem dos documentos e a sua citação nominal nos levam a concluir que o cap. João Francisco Junqueira esteve entre os primeiros empresários agrícolas, que já no início do século XIX, aportaram com seu capital e contribuíram para o desenvolvimento de Vassouras e outras cidades do Vale do Paraíba.

João Francisco Junqueira – Patriarca

João Francisco Junqueira, o Patriarca da família, nasceu em 14 e foi batizado aos 23 de novembro de 1727, em São Simão da Junqueira – Portugal. Era filho de João Manoel e Anna Francisca do Valle. Seus avós paternos foram Domingos Manoel e Maria Fernandes.

João Francisco Junqueira deixou Portugal imigrando para o Brasil ainda moço. Deve ter imigrado aproximadamente em 1746, quando teria pouco mais, ou pouco menos, 20 anos de idade. Isso sabemos pela data de seu casamento em São João del-Rei, 16 de janeiro de 1758. Como nascera em 14 de novembro de 1727, estava com 31 anos quando se casou.

João Francisco Junqueira e Elena Maria do Espírito Santo casaram-se em São João del-Rei-MG. Mal sabiam que se tornariam a célula-mater de uma das maiores famílias brasileiras! Não seria demais especular que o Patriarca teria inicialmente ganho dinheiro na mineração do ouro e, alguns anos depois de seu casamento, provavelmente em torno de 1764, se estabeleceu e requereu a Sesmaria do Campo Alegre. Esta sesmaria foi-lhe concedida onze anos após seu casamento, em 5 de abril de 1769.

Pelos testamentos de João Francisco e de sua esposa Elena Maria, sabemos que doaram aos filhos, ainda em vida, os bens que possuíam. As terras legadas aos filhos foram as Sesmarias do Campo Alegre e do Favacho, que mediam cerca de 3 léguas quadradas, ou seja, 21 quilômetros quadrados! Como vemos, a Campo Alegre e o Favacho tratavam-se, na verdade, de dois latifúndios de onde se originaram as fazendas dos filhos e netos do Patriarca, como: Bella Cruz, Santo Ignácio, Traituba, Jardim, Narciso, Caxambu, Cafundó, Campo Belo, Campo Lindo, etc. Elas se constituíram no núcleo original, que depois se espalhou por todo Brasil, da Família Junqueira.

Foi o Patriarca quem iniciou a construção da Matriz de São Thomé das Letras, na ocasião dentro da Sesmaria do Campo Alegre (ela foi concluída posteriormente por seu filho Gabriel rancisco, o Barão de Alfenas). Na Fazenda Campo Alegre, viveu até sua morte, em 5 de abril de 1819, aos 91 anos.